Querida cidade, de Antônio Torres
Antônio Torres surgiu no cenário da literatura brasileira com o romance ‘Um cão uivando para a lua’ (1972), recebido com grandes elogios pela crítica. Com ‘Essa terra’, seu terceiro romance, foi aclamado como um dos maiores escritores nacionais. É membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira nº 23. Seus livros estão traduzidos em incontáveis idiomas. Quase 50 anos depois da estreia e após um silêncio de 15 anos, ele brinda seus leitores com ‘Querida cidade’, um longo romance com 430 páginas.
Trata-se de um texto aliciante e perpassado pela ironia, construído por um artesão dotado de infinita paciência, com um cuidado beneditino, texto esse em que estão incorporados chavões, trechos de música, títulos de livros e assim por diante. O autor não nomeia o personagem principal, autointitulado Das Dores.
No belo romance se interpenetram as vozes do narrador e dos personagens (mesmo que utilizada a 3ª pessoa). Mas nem sempre a do personagem principal, que por vezes permite que um personagem secundário surja à frente da cena, quando então a narração sobre este se derrama.
Antônio Torres sabe criar como muito poucos, entre o personagem principal e o leitor, uma atmosfera de forte empatia.
Com seus 81 anos, que acabou de completar no último dia 13, é um homem profundamente sintonizado com o século XXI, mas que, ao mesmo tempo, sabe lançar um olhar de infinita ternura para o interior do Brasil nos distantes anos 50, época em que se passa a maior parte da história.
Imagem: Livraria da Travessa