MENINOS, EU CONTO : Antônio Torres, Editora Record, Rio de Janeiro, 1999, 79 pp.
Catalogado como literatura infanto-juvenil, Meninos, eu conto não deve ficar restrita aos adolescentes. São três contos deliciosos, todos tendo como personagem principal um menino do interior, talvez reminiscências da infância do autor, acrescidas de alguma ficção.
Antônio Torres nasceu num lugar como aquele no qual ambienta suas três histórias: natural de Junco, interior sertanejo da Bahia, hoje uma cidade cujo nome é Sátiro Dias, o escritor descobriu seu talento para a literatura ainda nestes tempos de menino da escola rural. Incentiva pela professora, Torres se tornou o escritor das cartas das pessoas do lugar e a recitar os poemas de Castro Alves nas datas festivas. Começou, assim, o caminho que realmente veio a seguir: o de escritor.
Já em Salvador, foi repórter do Jornal da Bahia e daqui foi para o sul como jornalista e publicitário. Estreou na literatura em 1972. Atualmente, mora no Rio de Janeiro, e é reconhecidamente um ficcionista representativo de sua geração, tendo livros traduzidos em vários países. Dentre os dez mais festejados, estão os volumes de Essa terra, de 1976, saído pela Ática, e Um táxi para Viena d’Áustria, de 1991, pela Companhia das Letras. Igual repercussão teve O cachorro e o lobo, já pela Record, em 1997.
Este Meninos, eu conto traz as histórias curtas: “Segundo Nego de Roseno”, “Por um Pé de Feijão” e “O Dia de São Nunca”, quando o tempo parece suspenso entre o trabalho duro da roça e o povoado de uma única rua de terra batida, seca e quente como costuma ser todos os povoados do sertão. Os meninos brincam com caminhõezinhos de madeira, há um beato que reza e pragueja contra os males do mundo e há o desespero de ver a pequena safra perdida.
Os relatos são tão reais que a empatia com a leitura se dá imediatamente. Entra-se no mundo dos meninos, no pequeno e pobre mundo dos sem esperanças, mas que continuam lutando pela sobrevivência, tentando domar a terra, a maldade dos de fora, como os forasteiros do conto “O dia de São Nunca”, que roubam o Santo Antônio do menino aleijado que fica sozinho em casa enquanto sua mãe labuta na roça.
Pode-se ler estas histórias em poucos minutos e senti-las por outros tantos ressoando no pensamento, absorvendo-as na alma e reconhecendo o talento do contista baiano impregnado pela relação telúrica que os primeiros anos de vida souberam marcar profundamente no seu animo. Como ocorre com todo aquele que é observador privilegiado da vida, os guardadores das sensações as mais miúdas e as grandiosas, enfim, dos que pegam da tinta para saltar um mundo que trazem dentro e fazer literatura.