Querida Cidade por Ronaldo Albuquerque

Em 25 de setembro no Facebook

Querida cidade, de Antônio Torres

Antônio Torres surgiu no cenário da literatura brasileira com o romance ‘Um cão uivando para a lua’ (1972), recebido com grandes elogios pela crítica. Com ‘Essa terra’, seu terceiro romance, foi aclamado como um dos maiores escritores nacionais. É membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira nº 23. Seus livros estão traduzidos em incontáveis idiomas. Quase 50 anos depois da estreia e após um silêncio de 15 anos, ele brinda seus leitores com ‘Querida cidade’, um longo romance com 430 páginas.

Trata-se de um texto aliciante e perpassado pela ironia, construído por um artesão dotado de infinita paciência, com um cuidado beneditino, texto esse em que estão incorporados chavões, trechos de música, títulos de livros e assim por diante. O autor não nomeia o personagem principal, autointitulado Das Dores.

No belo romance se interpenetram as vozes do narrador e dos personagens (mesmo que utilizada a 3ª pessoa). Mas nem sempre a do personagem principal, que por vezes permite que um personagem secundário surja à frente da cena, quando então a narração sobre este se derrama.

Antônio Torres sabe criar como muito poucos, entre o personagem principal e o leitor, uma atmosfera de forte empatia.

Com seus 81 anos, que acabou de completar no último dia 13, é um homem profundamente sintonizado com o século XXI, mas que, ao mesmo tempo, sabe lançar um olhar de infinita ternura para o interior do Brasil nos distantes anos 50, época em que se passa a maior parte da história.

Imagem: Livraria da Travessa

Querida Cidade por Nelson Rodrigues Filho

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LI, GOSTEI E RECOMENDO AOS AMIGOS
QUERIDA CIDADE, na sua polifonia e na forma de metaficção, constrói a cidade que a história de cada um recupera, não na concretude, mas na força da memória e sua companheira, a imaginação. Desse modo, embora haja a presença ativa de um personagem (o Das Dores), fio condutor e fator de verossimilhança, as ocorrências vão se dando, no tempo da memória, que desconstrói a linearidade temporal, para deixar fluir a lembrança, que não discrimina o cotidiano, o sentimental, o histórico , realizando o que é mais característico da escritura romanesca, a reprodução do discurso do outro. Organiza-se, na sua literaridade, o já-visto, o já-lido, o já-ouvido, o já- dito, criando, nesse espaço citacional – que incorpora, no mesmo plano, o trágico, o cômico, o alusivo, a ironia, a paródia – a grande personagem, que é a cidade interior do sujeito, as diversas relações, universo de crenças, costumes, desgraças, hábitos, desejos, frustrações, na finitude do mundo, cujo limite é significado no limite da linguagem. Não me lembro se foi Benjamin o mestre que ensinou ser a ficção a história íntima de um povo, o que cumpre muito bem o romance de Antônio Torres, trazendo para a cena a intimidade e o cotidiano que é tarefa da ficção e a História não consagra. QUERIDA CIDADE cumpre muito bem a lição de Tostói, segundo o qual ser universal começa na pintura da própria aldeia. A narrativa de Torres “dialoga” prazerosamente com o leitor, fazendo-o parceiro e confidente.
TORRES, Antônio. QUERIDA CIDADE. Rio de Janeiro/São Paulo, Record, 2021.

Querida Cidade por Luis Pimentel

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Chegando à quadragésima trigésima e última pagina do imprescindível “Querida cidade” (Editora Record, 2021), do gigante Antônio Torres, como quem desce zonzo de uma roda gigante e tenta reencontrar a serenidade em terra firme. “Uma história cheia de histórias”, como ele já definiu o romance literário, um exercício da tão urgente e necessária sobrevivência, “entre sonhos e sustos”. Livro para se recomendar aos amigos como quem recomenda uma oração. E ainda passei pelo susto e o orgulho de ver o meu nome nos agradecimentos. Como se diz lá na terra dele, é porreta!

Querida Cidade por Fernando Molica

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‘Querida cidade’, de Antônio Torres , é um livro forte, que condensa e amplia a obra desse grande escritor – as citações a outros de seus romances não são gratuitas, fazem parte de uma espécie de balanço dos desequilíbrios de tantas vidas.
Há um protagonista, que como em outros de seus livros, busca uma casa, alguma casa, mesmo que sua casa de origem. Viajar é preciso e incerto, pode levar a um manicômio, pode gerar o desejo de uma travessia de táxi até Viena d’Áustria, pode terminar em morte, pode apenas atestar uma derrota.
Mas o que vale mesmo é o processo, é o caminho, são as histórias, os desejos, os delírios, o que foi feito e o que não passou de projeto. Os sonhos não realizados existiram, também fazem parte da vida de todo mundo.
No romance, AT cita dezenas de canções, mas lembro de uma outra, ‘Samba do Irajá’, do igualmente grande Nei Lopes, que fala da sensação de na verdade “Não ter sido nem metade/ Daquilo que você sonhou”.
Mais uma vez, AT, baiano do Junco, volta pra casa e nos arrasta pelo caminho, como se levados pela água que, sem explicação, inunda nossas cidades, mistura nossas memórias, e lava só um pouco a nossa alma.