‘Querida cidade’, de Antônio Torres , é um livro forte, que condensa e amplia a obra desse grande escritor – as citações a outros de seus romances não são gratuitas, fazem parte de uma espécie de balanço dos desequilíbrios de tantas vidas. Há um protagonista, que como em outros de seus livros, busca uma casa, alguma casa, mesmo que sua casa de origem. Viajar é preciso e incerto, pode levar a um manicômio, pode gerar o desejo de uma travessia de táxi até Viena d’Áustria, pode terminar em morte, pode apenas atestar uma derrota. Mas o que vale mesmo é o processo, é o caminho, são as histórias, os desejos, os delírios, o que foi feito e o que não passou de projeto. Os sonhos não realizados existiram, também fazem parte da vida de todo mundo. No romance, AT cita dezenas de canções, mas lembro de uma outra, ‘Samba do Irajá’, do igualmente grande Nei Lopes, que fala da sensação de na verdade “Não ter sido nem metade/ Daquilo que você sonhou”. Mais uma vez, AT, baiano do Junco, volta pra casa e nos arrasta pelo caminho, como se levados pela água que, sem explicação, inunda nossas cidades, mistura nossas memórias, e lava só um pouco a nossa alma.