As gavetas nunca estiveram vazias: ditadura militar, escrita e resistência em Essa Terra

Artigo publicado na revista Entrelaces V. 10 Nº 22 – out/dez 2020 – Universidade Federal do Ceará – UFC

Por Vanusia Amorin Pereira dos Santos e Susana Souto Silva – Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e Universidade Federal de Alagoas

Resumo

No final do século passado, parte da crítica literária se dedicou a avaliar a produção publicada nos anos da ditadura militar, debatendo sobre o modo como alguns autores reagiram – em suas obras – à censura e à repressão. Constataram que, à época, a literatura foi um dos meios para divulgar as atrocidades e evitar silêncios impostos, sendo o maior desafio publicar obras críticas à ordem política sem enveredar pelo maniqueísmo. Considerando o passado histórico e o momento presente, este trabalho demonstra como Torres transformou um tempo histórico em ficção, mais especificamente analisa a obra Essa Terra, e quais elementos estéticos foram usados na transfiguração do real em ficção. Seguiremos Bosi (1996;2002) e suas ideias sobra narrativas de resistência, bem como autores que abordam a relação livros e ditadura militar, como Pellegrini (1996) e Reimão (2011), dentre outros. Concluímos que Torres se opôs às forças ditatoriais, transformando em arte literária a tensão entre indivíduos e sociedade, de modo que criação e representação dialogassem entre si, superando assim os muros da política e refletindo sobre o literário.

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As gavetas nunca estiveram vazias: ditadura militar, escrita e resistência em Essa Terra, de Antônio Torres.

Veja o artigo incorporado abaixo:

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UMA REGIÃO DA MEMÓRIA: ESPAÇO E IDENTIDADE NA TRILOGIA DO JUNCO, DE ANTÔNIO TORRES

Abaixo está o artigo em PDF que você pode ver ampliado clicando aqui – Uma Região da Memória: Espaço e Identidade na Trilogia do Junco, de Antônio Torres por Lucas Mateus Mariz de Andrade e André Pessaro Pelinser da UFRN UFRN – Artigo publicado na revista Versalete, da Universidade Federal do Paraná.

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Coleção de resenhas feita por Vera Lúcia Dias

Nas palavras da curadora:

…diferentes visões e interpretações que cada pesquisador Brasil afora fez do seu livro. Esse site é justamente pra alargar a visão das obras. Além de incentivar que todos leiam eles complementam o leitura de cada uma delas. Creio que será um trabalho riquíssimo e que vai ajudar muitos estudantes, pesquisadores e professores.

Vera Lúcia Dias, abril de 2020

Clique para visitar o site: Antônio Torres com curadoria de Vera Lúcia Dias.

Veja, por exemplo, o verbete já bem extenso sobre Essa Terra.

Sinopse: Pelo Fundo da Agulha

Capas de Pelo Fundo da Agulha

Personagem principal de Essa terra, Totonhim e Junco, cidade natal do escritor Antônio Torres e de seu personagem mais célebre, surgem novamente para o público em 1997, com O cachorro e o lobo, no qual se conta o regresso do protagonista à cidade depois de ausência de 20 anos. Mas ainda faltavam coisas pra contar. O emocionante acerto de contas entre Totonhim e suas memórias de Junco acontece agora, com PELO FUNDO DA AGULHA, que fecha uma trilogia primorosamente construída na velocidade de um pau-de-arara.

São três tempos de um personagem catalisador da vida brasileira na última metade do século XX. Em Essa terra, ele aparece moço, recebendo seu irmão Nelo, que partira para São Paulo. Cultuado como alguém que deu certo, Nelo volta falido para sua Junco, no sertão baiano, e acaba cometendo suicídio por não corresponder às expectativas dos seus e por não se reencontrar mais com a cidade. 0Em O cachorro e o lobo, a narrativa ganha lentidão. Transcorridos 20 anos, Totonhim reaparece para comemorar o aniversário de 80 anos do pai. Atormenta-o o desemprego, mas ainda consegue representar o papel do homem bem-sucedido, distribuindo presentes e festejando com seus conterrâneos. Nesta viagem perigosa, seu pai teme que ele siga o exemplo do irmão, e lhe proporciona um almoço que é um elogio da vida e uma noite de amor com sua primeira namorada.

Em PELO FUNDO DA AGULHA, 10 anos depois, Totonhim está sozinho no mundo. Aposentou-se, separou-se da mulher e dos filhos, perdeu o melhor amigo e faz uma outra viagem de volta – totalmente interior. Embalado pela imagem da mãe velhinha, mas ainda com visão boa para enfiar a linha pelo fundo da agulha, sem usar óculos, ele repassa vários lances de sua vida, como se a olhasse por esse orifício. As figuras agora existem só na memória de Totonhim, que revela o lado paulista de sua história.

Ele está em uma nova encruzilhada. O homem fora de combate deita na cama e pensa no sentido de tudo. Não há ninguém para consolá-lo e ele se sente perseguido pelas histórias de amigos e parentes que se suicidaram. Quer voltar para Junco, Junco não existe mais. “Tentei, neste livro, fazer uma reflexão sobre este crepúsculo do mundo em que vivemos. Um mundo pós-utópico, pós-modernista, pós-tudo. Entendo que por trás dos impasses do personagem Totonhim não estão apenas os meus próprios. Nem apenas da minha geração. O que me parece é que de repente nos vemos todos – jovens, adultos e velhos – numa espécie de encruzilhada do tempo, em busca de uma saída para o futuro. E onde está esta saída? Eis a questão”, conta o autor.

Ao som de velhas canções, Torres constrói em PELO FUNDO DA AGULHA uma narrativa musical, com idas e voltas, representando o próprio movimento desses migrantes que habitam dois tempos e dois mundos, fazendo a passagem contínua de um para o outro.

Antônio Torres nasceu em 13 de setembro de 1940 em Junco, um povoado no interior da Bahia. Estudou em Alagoinhas e Salvador, onde ingressou no Jornal da Bahia. Aos 20 anos mudou-se para São Paulo, onde foi repórter e chefe de reportagem do caderno de esportes do jornal Última Hora. Trocou o jornalismo pela publicidade, trabalhando como redator publicitário em grandes agências brasileiras. Estreou na literatura em 1972, com o romance Um cão uivando para a lua. Em 1976, publicou Essa terra, seu maior sucesso, que já foi traduzido para o francês, espanhol, italiano, alemão, hebraico e holandês. Também é autor de Balada da infância perdida, Os homens de pés redondos, Carta ao bispo, Adeus, velho, O centro das nossas desatenções, O cachorro e o lobo, O circo no Brasil, Meninos, eu conto e Meu querido canibal. Em 1998, foi condecorado pelo governo francês com o Chevalier des Arts et des Lettres. Em 1987, recebeu o prêmio Romance do Ano do Pen Clube do Brasil por Balada da infância perdida e em 1997 o prêmio hors concours de Romance da União Brasileira de Escritores por O cachorro e o lobo. Em 2000, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Meu querido canibal lhe rendeu o Prêmio Zaffari & Bourbon da Jornada Literária de Passo Fundo, em 2001. Em 2003, lançou O nobre seqüestrador, que conta a história de René Duguay-Trouin, corsário francês e personagem de muitas aventuras cuja espada submeteu navios, seqüestrou cidades, intimidou vontades e conquistou corações.


“Antônio Torres é um escritor que construiu carreira sólida ao longo de 30 anos. Poucos autores de sua geração têm um estilo tão marcante, uma linguagem tão poética e envolvente. Em seu mais recente romance [Pelo fundo da agulha], Torres penetra nos meandros da velhice. Quando ela começa, como se manifesta, o que acontece com nossa rotina diária no momento em que nos aposentamos, o que fica de nossa auto-estima, o vazio que nos toma. Não é, em momento algum, um livro para baixo, uma história de decadência. Cheio de atitude e poesia, é uma lição de vida, um romance cheio de ternura e compaixão, a história de um homem que perde o emprego e mergulha no sertão baiano em busca do pai. O romance busca a resposta que ninguém tem: qual é o sentido da vida? Por que aqui estamos? Torres é um obstinado: low profile, despreocupado das glórias vãs, cresce a cada livro”

Ignácio de Loyola Brandão (Revista Vogue Brasil/ janeiro 2007)